sábado, 17 de abril de 2010

Ensaio sobre a cegueira - II

Andar de olhos fechados... prazer.

É ter que confiar e esquecer de se preocupar com você. É se entregar de corpo todo e acreditar que o outro tem bons olhos, melhor que os seus. É preciso não tentar decifrar. Só aceitar. Deixar-se ser levada... onde? Em uma montanha ingreme, cheia de detalhes inimagináveis, onde o sol se põe. A bicicleta passa aqui do lado. Uma mulher de salto alto, apressada passa rápido. Um homem com pressa. Um rapaz com um chaveiro na mochila. Um homem que me galanteia na escuridão e perde a face diante de mim. Um ou dois curiosos me param.

O cheiro do vento. O cheiro de sujeira na rua. O cheiro da árvore. O cheiro de um bom perfume de alguém que passou aqui bem perto. O cheiro de cabelo recém lavado. O toque que me guia com cuidado e carinho...

Quanto mais você confia, mais longe vai. Mais alto sobe. E pula lá do alto. (Se quiser, só se quiser)

Eu ainda quero subir. Ainda quero confiar e não ouvir tantas vozes, quero só ouvir o vento e sentir os vários cheiros que ele traz. Com-fiança.

Quando guiei... des-confiança... queria ter levado mais longe... mas agente só pode levar alguém na montanha se esse alguém quiser subir também. Ficamos no quase. Quase fomos lá... Não foi? Agente ás vezes tem medo demais. O medo nos impede de ir mais longe e até de ser, de estar, de permanecer ali, de olhos vendados e espirito aberto. É dificil confiar nos olhos e nos passos de um outro alguém... Mas vale a pena. Há muito pra se ver pelos olhos e pelos passos do outro.


"A diferença entre o extraordinário e o ordinário está no extra, essa pontinha de dedicação a mais que você se dedica..."


Gislaine Pereira - Gis

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